Abraão

Gênesis é o livro das origens. Ali aprendemos como surgiu o universo, como a humanidade foi criada e como o pecado entrou no mundo. Uma vez que a salvação do pecado, conforme o ensino de Jesus, "vem dos judeus" (Jo 4.22) , em Gênesis também aprendemos como se originou aquele povo, a partir da chamada de Abrão, o grande patriarca de Israel.

A história de Abrão começa em Gênesis 11, onde é narrada a sua saída de Ur dos caldeus, na Mesopotâmia, rumo a Harã. No capítulo 12, a Bíblia diz que quando Abrão estava em Harã, Deus falou com ele e lhe disse o seguinte: "Saia da sua terra, do meio dos seus parentes e da casa de seu pai, e vá para a terra que eu lhe mostrarei. Farei de você um grande povo, e o abençoarei. Tornarei famoso o seu nome, e você será uma bênção. Abençoarei os que o abençoarem e amaldiçoarei os que o amaldiçoarem; e por meio de você todos os povos da terra serão abençoados" (Gn 12.1-3) .

Obediente à ordem divina, Abrão, aos 75 anos de idade, juntou todos os seus bens e partiu para Canaã, atual Palestina, onde chegou com Sarai, sua mulher, com Ló, seu sobrinho, e com outras pessoas de sua casa. Ali o Senhor lhe falou de novo, dizendo: "À sua descendência darei esta terra" (Gn 12.7) . Então, Abrão edificou um altar ao Senhor e seguiu viagem. Fixou-se por algum tempo entre Betel e Ai, onde construiu outro altar e, então, continuou sua jornada, sempre rumo ao sul.

A história da chamada de Abrão serve como base para duas lições importantes. Em primeiro lugar, por ela aprendemos que, no relacionamento entre o homem e Deus, é sempre Deus quem toma a iniciativa. De fato, no livro de Josué, aprendemos que Abrão pertencia a uma família pagã, que adorava falsos deuses (Js 24.2). Somente por iniciativa do Deus verdadeiro aquele homem virou as costas para a religião de sua família e se tornou obediente ao Senhor.

Aliás, o Novo Testamento também mostra que é Deus quem dá o primeiro passo na busca do homem perdido já que, como ensina Paulo, "não há quem busque a Deus" (Rm 3.11). Lembremos ainda que Jesus ensinou isso claramente quando disse: "Ninguém pode vir a mim, se o Pai, que me enviou, não o atrair..." (Jo 6.44). Assim, aqueles que buscam a Deus e andam com ele devem reconhecer com humilde e gratidão que só fazem isso porque o próprio Senhor, por sua graça e misericórdia, um dia os impulsionou.

Em segundo lugar, a história da chamada de Abrão nos ensina algo sobre a fé. De fato, o autor da carta aos Hebreus diz: "Pela fé Abraão, quando chamado, obedeceu e dirigiu-se a um lugar que mais tarde receberia como herança, embora não soubesse para onde estava indo" (Hb 11.8). Nesse texto, vemos a forte conexão entre fé e obediência. Não uma obediência qualquer, mas uma obediência que se realiza mesmo quando aquele que crê não entende o que Deus tem em mente.

Assim, o homem de fé é aquele que obedece mesmo sem compreender as razões ou os propósitos das orientações de Deus. Ele obedece porque sabe que Deus é Deus e que seus caminhos não podem ser submetidos ao julgamento da limitada mente humana. Esse traço da fé genuína está em falta na vida dos cristãos modernos. Hoje, os homens separam a fé da obediência incondicional. Não têm a fé de Abraão. Será, então, que têm a aprovação do Deus de Abraão?

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